domingo, dezembro 06, 2009

Embalsamento

Recordava a mudança que se dava, se pintar mais paredes, refúgio de marfim, mastros retirado aos titans da dor. Não me vale, saber que o possuo enquanto me perfuram os ossos, expelem-se fumos caramelizados. Se a sua voz cai em graças é o rural que nos catapulta a admissão a uma nova alforra, dimensão do vago que enche os copos. Se me fixasse, ninguém refutaria, o molde quente seca-me as pálpebras enquanto folgo o nevoeiro. Se to ditarem, nada mais é sacro que o senão da tua melosa lógica, e a ração que te servia de cabeça perdeu-se, cortam-se as suas penas para que a clareza invada esta sala. As barbas já ninguém as olha, que essas, embora brejeiras, já desfazem a complexidade dos engenhos e tiques, resvalam-te as crenças e continuas a criação. De todos, já menti-mos na segurança de voltar a sentir, algo que futuramente será raro, anões já encrespam florestas enquanto continuo o inconsciente de existir em trocas de galhardetes, sem remoer nos anos que já me afugentam. A sabotagem das memórias que me assombram a pele deixam escorrer bálsamo pelas unhas. A negação leva o embaraço a derreter-se numa panóplia de sons, escorços de mel coreografam-me a cabeça, tentando-me ao deleite.

1 comentário:

Sofia disse...

por vezes sinto-me imovel, ou trancada dentro de um limite que foi contornado pelas minhas escolhas para sofrer nesta angustia que me consome inconscientemente. como se eu quisesse estar imune a mais vida, como se eu quisesse nao me associar ao mundo, como se eu quisesse que eles me observassem imobilizada para sempre, com uma dor que fura o quotidiano.