domingo, janeiro 31, 2010

Ardor

Por aí é dito que os diálogos entre mudos se tratam nas papilas, numa paixão indigesta que nos obstruem em febres anómalas, apesar do pouco que expande o odor, acre bálsamo. Efémera a vontade de voar, extingue-me a fervência num branco desfeito, à mudança de um soluçar se questões nem forma de o carpir. Num descer desengonçado pobre de qualquer materialismo, empesta-me cada minuto de desonra. Retorno ao vidro, também aqui enfiado num mistério de longas olheiras que se descaem solenemente sob os meus globos oculares. Um foco. Extingue o pouco que nos balanceia, veia que insiste em perpetuar a desconfiança de outros encontros, espaçados em correias de cólera, pois, nunca é simples o ignorar duma inductilidade de romantismo que, contraditório, censura as maneiras da presença de liderança. Uma única presença de três numa cama. Inconsequente e uma lacuna felina, de tudo o que já agasalhámos e retornámos. ‘É tardia, a bizarra …’, e pensar no estratagema é embuste que me deixa descorar as paredes. Fartas na paixão, mas já a desacreditei há mais tempo, empalidecia-me o chão, cortava-me a fala. Não são longiquos os traços ambiguos, imitadores estrebuchados por uma vontade.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Um outro começa a tentar alcançar, longa a espera emudecida de tanto lixo. Enlaçam-se as pontas dos dedos, um acumular petrificado e sujo, ensurdecedor. O inútil misticismo que me inunda a profanação do ensaio rabisca a contemporaneidade pelas paredes. Mas eu, cheia do pouco, embrutecida pela podridão que me conta a palma da mão, espero no frenesim. A inibição descontrai-se ao teu encontro num arrojado desfecho. Avante …os dextros continuam ofuscados pela certeza da segurança. A coberta era fina demais, enquanto lhe floresciam dos coutos inócuos movimentos, ambíguas na dor e prurido, de quem já aportou. Balançam-se dois vasos nos meus braços, ressaltando as covas ocas que compõem os meus ângulos, fragosos. Um desinteresse invade a nostalgia enquanto embalo o pulso numa fricção contra o outro, e agradeço-me na adopção.
Resta-me inalar as migalhas, enquanto empobreço numa ingénua imobilidade - outrora a franzina renúncia.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Cansaço

Há pouco disse que estava certo, já não quero voltar. Atiçado pelo próprio antiácido descongela a ira tornada moscatel, enfurece o rasgão na coxa. À frente seguia de seus traços puramente masculinos e grotescos, uma forjada maçã de Adão consumida pela imponência das maçãs abolachadas apóstolos do olhar, enterrando a sombra num solo directos ao silêncio do nariz, numa melosa proposta. Um simples gesto de contradição para reconciliar uma outra relação esquecida: a exclusiva. Outras exclusivas, essas tantas que vagueiam no tempo mesmo sem lhe tocar na hidráulica, rasgam e furam com os olhos o simples horror de não poderem ser tocadas, fluindo numa horrorosa tortura perfeitamente coordenada, presentemente á não o quero largar. “Eu sou ele tal como tu és ele e ele é como vocês que são como eu e todos nós estamos juntos”, ouve-se num choramingo fundido por faróis de um outro que se atira de colinas na esperança de florescer no hipotético, e a cebola continua a resvalar no meu lamento.

... it feels like years since it’s been here.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Herói

Já vi que não acciona nem reage, mas não me canso de o fazer: coordenar. O préstimo é uma lástima saciável, e embora me ocupe de menos o tempo, enche-me as horas, possivelmente um pouco menos do quem um aparo, verosimilmente mais do que uma chaga. Chagas, úlceras aflições, de uma dinâmica tal que enraízam a sonolência aos nervos, a elasticidade nos músculos. O pouco mais que um pequeno associado para corromper enfezados, e os paus que espetam estrias, enfurecendo a forma de compreender a razão estúpida de somente a loira o empardecer, escasseando as conjecturas, cedendo os vermelhos. Sem extinções martiriza-se o excesso, para voltar a rebobinar. A rectidão e devoção a princípios explodem quando se trata da habilidade dele, simples a contradição do imprevisível humano, tal como a paixão do determinismo do confronto ético.
O fim foi dito uma desilusão, uma sodomia enevoa o fraco temperamento, a forma contemplativa de uma infantilidade mais estudada, traído por esforços corpóreos, delimitando os raros diálogos visuais.

Poderia chamar-lhe herói, não tivesse sido tão violento o aviso que me deu …

domingo, janeiro 10, 2010

Pregos de Cetim

Toda a dissertação aproveitada em pausas que não se transformam, jactos de tinta esboçam mais do que o que a transfiguração deixa agitar. Espantosamente aficionada em sujeições populares recorrentes, deixa-se talhar noutros momentos que não os sabe sequer, entres varetas e paus que lhe aconchegam o espaço, uma dinâmica esborratada por veias de luz que escondem a sua face. A biografia escrita apenas numa linha sucinta, nem mesmo um pobre rodapé, daquela que se embriagava nas paredes azuis. O recorrente e cada vez mais audível batuque no ferro despertou o pânico de revirar uma vez mais os pés e trepar paredes num vento húmido e fluido, um romper de arames que a sustinham sobre o argênteo. Descamam-se os movimentos violáceos que regridem à mesma forma de acabar, nem uma única mutação quer permanecer. Ela pede mercês, virando a cassete que lhe entorna a pele sobre o cadáver, num conjunto um pouco roliço. Nem lhe batia, mas arrepiava as peles, e lá de dentro desencadeavam-se bolhas. Eram verbos os que a detinham em alucinações mais vezes fáceis do que deseducantes.
Ele adormece no canto mais sebento da própria perna, um cortejo mudo, depois de pregar a si mesmo os restos. Esqueci-me de que os cuidara, esqueceram-se de se lembrar, de vez em quanto espirram-me letras e já não tenho toque algum que espraia uma valsa nos borrões de vinho.

terça-feira, janeiro 05, 2010

O pouco

"Aquilo que aprendi já não o sei. O pouco que ainda sei adivinhei-o."

Soltam-se calafrios na cabeça, a ironia que imagino a fechar é a mesma transcendência que me une os braços ao tapete. Não colhi uma sombra estática, vesti-me de lobo, larguei-me de casa. Guardei, apenas os único que me faz levantar na expectativa de morrer na esquina, atraiçoado a inércia que teima em seguir. Podia diminuir este aumento de revirares mas deixo-me estar pela injúria que vivo em momentos destes, a espera melosa de faca atravessada. Ambos os que me desintegram firmam-me entre pequenos pedaços de borracha, o maleável conforto que me arranha a nuca faz-me pensar na provocação. Viro o olhar para o canto superior enquanto matraqueio e paro num movimento exterior incessante, coma que me reconstrói a cada dia, mudam-se os números para o emaranhado. Não rótulos, quisesse delinear, marcava os risos com outros dentes, forjara-vos a querer acreditar – não seremos parasitas dessa peste humana que decalca o chão, moldando então as folhas do aquário que nos amamentou a cortesia?
É pouca a franqueza pura de um ornato intelectual que nos custa o corpo.

domingo, janeiro 03, 2010

Bafio

Já se me esgotaram as hipérboles, resta-me o bafio de continuar a enfatizar, os tecidos, as linhas, a trama que teimo em desdenhar. Pelas teias que arranquei, mereço todas as acusações, ainda que patranhas. Soube que não tinha de me arguir, tinham-se quebrado ambos os copázios cheios de perseverança, não pelos meus dedos, nem mesmo pelos desajeitados joelhos. Não foi a violência grosseira, essa movimenta-os na rotina, a árdua percepção de um fim contíguo, quem sabe a pequena lentidão de demonstrar firmeza mútua. A distância entre o nariz e o canto dos lábios era capaz de ser maior do que a da razão, e a luz a apagar rasga as vozes que para mim ele cantou. Só mais uma vez, pensei acordando às cinco da manhã, fluindo em manchas no vidro baço. Talvez tenham tido a inconsciente razão para actuar na autodestruição dos mesmos. Hoje já não se ouvem as ventanias caramelizadas que anunciavam o advento, o vinho já não amorna, somente o pisar dos cacos aguarda um reencontro rancoroso. Eu já esqueci tentar que cantarolasses, continuo a namorar os cotovelos.