terça-feira, setembro 30, 2008

MariAnette

Crawls against the fog.

Sala Branca. Reapareço tempo. Fio que me prende a nuca. Chuvisca, amargo duche, olhos fechados deslumbram mentes abertas. Baixo. Cima, teste. Água repinga pela parede horizontal, cobrindo, manchas. Suspiro. Peso morto na mão, punho cerrado. As unhas serram a minha carne lentamente num grito relutante. Abstenho-me. Nulo, neutro. B-R-A-N-C-O. Buraco que funde tudo, metal do que antes era pavio, do que havia para fundir: não . Bola de sebo, líquidos humanos, embalada em linho, saco desportivo. Nervosamente mexo dedos, tremendo por todos os cantos sem nada a fazer. Estrondo, prende-se o saco á masmorra, parte-se a inocência. Inexistente, ou pouco mais, um aborto á espera que o tragam de novo para ti. Mais nublado. Mais. Largo as mão ao abandono de quem as quiser levar. Sangue.pulsos rodam, formando o ruído infernal de ligamentos deslocados. Agarro-me ás paredes, que se parecem fechar enquanto me deixo cair. Forço o mais que posso, banhada em de suor vergonhoso de orgulho. Gemo, mas nada se ouve. Um grito silencioso que inquieta a surdez do ouvinte. Branco...

...Algo. Cor ? Materializo-me aqui; futuro, presente... Minimercado minúsculo. Agarro numa Frize, com remorso de partir a ambição, frágil como vidro. 'Atiro-te fora de horas'. Pontapeio o carro com toda a força possível. Mal se move. Muda. Trago difícil. 'Atiro pelas horas fora.'.

terça-feira, setembro 23, 2008

Corre.Foge do pior presságio imortalizado por si mesmo. Tempo, haver. Não podemos deslocar mo-nos pois o próprio tempo imortaliza-se, sufocando-nos pelas suas brumas, peludas da inocência de matar quem sabe, fortalençendo os pobres. Espírito, com certeza, não ressente sentimentos. Não sofre. As entranhas atam-se á pele, nauseabundo. Balança pelo vazio.
Flutua na própria mente, imunda a tal acontecimento, podre por defeito.'Unf!'. Esbarra, será por defeito?, na mesma escada. Abre-se uma nesga da portilha, encolhendo-se de pensamento, constrangido, e de tamanho. A luz enganadora, transforma vultos, que se dissipam pelo fumo, agarrando o céu. 'Mói.'

Rodeada pela abundância verde, senta-se. Espera expectante que o vento a leve, mas já se criaram as pétalas de mágoa, que a agarram ao chão, impetuoso mas não impenetrável. A rocha estala, como uma conversa perdida no som, encontrada no vácuo.

Entra, pisa, estala. 'Folhas de Outono. Passou...' muito. Veloz tenta não despedaçar a esperança, escorrendo suor pelo coração, esforçado.Pára.

Sente-se a respiração ofegante. Estala, novamente. O nojo sentido não é nenhum, insiste a náusea em vir pela saudade. Escorre...

Ofega. 'Enfim'. Sol, esmorece com a memoria viva. Aonde como?. Encosta-se, agarra o ombro, molhado. Os olhos encontra-se, não felicidade, saudade. Ambíguos. Agarra-se a mão, Rencosta-se no mármore, encosta ao quadril, intenso pela idade requerendo esforço da alma, que se pena. 'Vermes no estômago ressentem esta arte de criar que me persegue.' murmura. Afagam-se. O peso de um toque é muito para um só. Escorre em abundância. Aninha-se no mármore, encolhe. Chuviscos impetuosos interrompem o tempo, que flui pela insistência. Chegam ao pescoço ... "Cheiras como o chão de uma cervejaria com o toque de cigarro de segunda e uma pitada de old spice". Tocam-se...

domingo, setembro 21, 2008

Paternidade

Giram á minha volta. Não vejo, não os sinto. Cheiro. Cheiro esse do que seria um dia uma luz no fundo do túnel. Entopem-se as veias. Jorra...Parte de um ser que está em mim sem me ser. 'Dói-me o nariz'. Ardo, no frio de um inverno avassalado pela chuva, pingada no telheiro. 'Entra. Faz de tua vontade, instala-te'. Abrupto, o que se parece com um vulto do que nunca foi (se alguma vez será, repousa na minha mente a sua ideia), não o pretende de alguma forma. Uma escolha. Violentamente, rompe-me como quem mata a dignidade. Enche ocupando a madrugada cinzenta que me ocupa nesta depressão sazonal que se forma como um buraco negro. O ventre arredonda-se fortemente, não um escudo mas papel. Ao menos movimento, engelha-se. Não tive noção de como ia ser...assim. As pestanas, essas, estão unidas por resina bloqueando uma vista desejável e perturbadora. Minha maldita resina. Matei quem ser, aquele que me induziu a esta queda, maior que tudo mais íngreme que já alguma vez alcancei e virei a alcançar.'Indumentária do pastel de nata'. Agua.. Dói-me tudo, menos ele. Não me ouvem? Á-G-U-A. Mantém-se intacto enquanto peno e me desolo. Passo a mão da minha dor pelo corpo, amortecido pela luz matinal, serena, atravessando-se pela minha traqueia como um pedaço de carne preso. Carne humana, vermelha, apetecível. 'É enfim um fim igual, não para nós, não para mim.'. Tantos outros como que encarcerados...mostram-se ávidos á mesma razão: vida. Nada agora por líquidos infectados, pelo normal peso da alma, enfurecido. Infectados, somos. Corta a veia, na ânsia de suprimir a dor, engulo-o de um só trago. A sede cresce. Não faço força, porque não há forças para me esforçar. Desliza. "É voltar, sem dor nem mágoa.Isto é só mais uma razão para estar sem ninguém por ti". Nasces levando-me a um extâse do veneno que me corre por mim acima. São, observas-me, meticulosamente. "Só mais um peão.".

sexta-feira, setembro 19, 2008


" Os corvos afirmam que um só corvo poderia destruir os céus. E sem dúvida assim é, mas o facto não prova nada contra os céus, porque os céus não significam mais do que a impossibilidade dos corvos. "

por Franz Kafka,
in Reflexões sobre o pecado, a dor, a esperança e o verdadeiro caminho.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Indulgência

Não entendo ainda o meu porquê de tanto paleio, nada de interessante, nada que baste. foda-se. Para quê escrever se nem estes descrevem como me sinto?Ninguém merece saber nem tem a lata a este ponto.Sinceramente não me parece que vá satisfazer estes filhos de um mundo mimado em que não se faz nada por ninguém, e vão buscar tradições daqueles que outrora foram grandes, sendo hoje desprezados e roubados pelos mesmos indivíduos sem escrúpulos de viver, cortando asas e arrancando olhos á nascença. Asfixiam alguns, cortam gargantas a outros. Pais culpam-se pela culpa de quem não tem culpa, ao invés inteligência de criar algum mecanismo com o qual não ser um instrumento, mas quem trabalha. Facilitar a tarefa dos outros de cortar a corda elástica á qual se estende a máscara de quem porta, que aguenta o raciocínio vindo de alguém que nem os primórdios da sua vida relembra ou esforça por reviver. Ingratidão não. De certo já causei muito ao quebrar esta corda, passando de ingratidão a transcendência pura. nuvens azuis formam-se no chão colando-se por manchas nojentas que ocupam o céu, rastejadas pelas asas de quem menos voa, mas mais debica deste ninho.

quinta-feira, setembro 11, 2008

*

Olha-me, olho-me. Nos olhos directamente. Deveras interessante, não apelativo. Apoia-se novamente sobre o lavatório, que reluz sobre o foco luminoso vindo do tecto, como um holofote. Invade-me uma vergonha e remorso. Poderia ser de mais alguém, mais ninguém sabe, não querem saber. A culpa está lá presente também. Pergunto-me, citando 'ser ou não ser?'. Seria feliz se não existisse, mas a pura e indefesa existência não tem qualquer peso sobre o decidido. Está pregado ás minhas costas, cozido com linhas de aço e fios de pesca, sob pedras. Diz-se que nada é impossível, mas não é possível retirar isto sobre mim sem me despedaçar, como uma folha rasgada pela raiva de quem menospreza, sendo menosprezado. Lembranças de uma mente que morre, num cérebro que a acompanha. Um esforço para arrancar a agulha do meu braço. Enfim, livre na minha cela.'Tonight i'm gonna rest my chemistry'. Gemo. Algo me pica o pés, doridos do tempo, da terra, da agua, da areia. Olho pelas cortinas. Está um dia cinzento, pouco nublado, o rio move-se imóvel, levando consigo as folhas das árvores ás quais já pesam. Sorrio... Nada mais me alegra e traz calma, não de espírito. Apoiando os joelhos no parapeito, de pele rogada e áspera, agarrada ao antigo e empobrecido aquecedor de óleo e á força. Retiro a mascara, respiro uma vez. O som é horrível, embora seja lindo. O sentimento...As pernas tocam no vento e sentem o frio, mesmo frio de décadas anteriores quando se corria pela relva, pelo orvalho.Um esforço.
Deixo, agora, entrar os fantasmas, de um passado que nunca revivi, de um futuro que não será meu, do presente ...



Adeus, adeus Pardais ao ninho.

terça-feira, setembro 09, 2008

Sonhos

Sente se a necessidade poética, embora se escreva prosa. Não., Poesia. É o que me ocupa quando escrevo, que me desocupa enquanto durmo, noutro corpo, noutro sitio, noutra vida. Abrem-se os olhos. Volto de novo a este corpo, mas continuo lá. Estou aqui e lá. Há quem permaneça completo nos dois. Não posso, não quero? Permanecer firme de pés na terra é uma ideia consistente, não agradável. Permanece o vazio, entre as entranhas, do que já fui. Quando não se consegue combater e o cansaço, esforços inúteis do que sou, volto a ser de novo. Sou dois seres sendo só uma pessoa. Só uma mente que tenta arrebatar mundos com a sua força. Mas a força esgota-se, e eles apoderam-se de mim...Intragável cheiro a alfazema percorre-me o corpo. Cheguei. Uma vez mais, por uma pequeno espaço de tempo. Uma porção de liberdade alimenta-me. 'Se ao menos não pudesse voltar'...

segunda-feira, setembro 01, 2008

Vida em mim

"Edging towards, a child you may keep,
Retreading the boards pretty young thing
You'll get you reward,
Permission to speak
A place to yourself,
A garden with swings,
Handwritten cards do nothing to ease,
The burden
Where is my release,
Face up to them all,
As they sway side to side,
They put me on show,
Disgusts and rewinds,
To take life away
Was really life there,
No sound, no."
Sem título (1980)
Ian Curtis