Uma criança. Morena, pequena e uma verdadeira peste. Visitava muitas vezes a avó, que vivia na zona histórica da cidade, a escassos paços do castelo, que abrangia a vista de toda a cidade. Numa rua estreita, sempre muito quente, lá ia a criança a correr. Parava e deparava-se com uma grande porta verde, sempre com um ar limpo, embora nunca ninguém lhe prestasse grande atenção. As vizinhas, essas, diziam sempre 'Lá vai a filha da Laurinha !'.
Entrando na casa havia á esquerda uma porta branca trancada, uma porta de madeira do lado direito, á qual levavam as escadas que também levavam ao 1º andar onde havia a porta do sótão e uma outra porta de madeira.
A menina dirigia-se sempre a esta porta e batia sempre á porta. Nada. Tentava de novo e, desta vez, alguém murmurava do outro lado da porta. A voz estava distante e parava num instante. Eram segundos até alguém lhe abrir a porta. Uma pessoa já de idade esboçava um sorriso e baixava-se um pouco. Cumprimentavam-se. Daí a pouco tempo iam passear e, como eram as duas muito gulosas, talvez comer um gelado naquele dia de Primavera, quase Verão. A senhora de idade demorava-se sempre um pouco mais que o previsto e, a menina já estava porta fora mal a porta do 1º andar se fechava
Decidiu explorar. Descia as habituais escadas velhas, que pareciam infinitas até á fatídica rua, a que chamavam desde sempre Rua Direita. Haviam muitas ruas 'filhas' desta rua 'mãe', todas iam dar á Praça Rodrigues Lobo. Já um pouco cansada de descer as escadas, e ainda a avó começava a descê-las agora, decidiu escolher a mais óbvia e foi pela 1ª que viu á sua frente (poupando o esforço á avó de a chamar pela rua fora). O mesmo de sempre. O sítio a que chamava 'armazém', velho, abandonado, podre e cheio de lixo, a garrafeira do Sr. Ferreira... 'Espera...' Havia algo de novo. A menina já não ia por aquela rua há algum tempo, ou simplesmente pela distracção, não tinha reparado. Uma nova loja tinha aberto, e ainda não tinha entendido bem de quê. Tomou uma decisão que não lhe era habitual, pois era uma criança um pouco acanhada. Decidiu espreitar. 'Só um pouco,para saber o que é.'. O ditado 'A curiosidade matou o gato' aqui não servia de nada, porque nunca se iria arrepender disto. Fitou-a de fora. Um pouco de longe para que não se desse a entender a sua presença. A avó chegou e propôs-lhe que depois de irem dar o seu passeio e comerem o seu doce podiam vê-la.
Depois de conversas e encontros com vizinhas, um gelado e mais conversas no caminho de volta, voltara então á Rua Gago Coutinho. Entrou na loja, e logo de inicio percebeu que se tratava de uma loja destinada àquele deporto com que era algo familiar. A loja não estava muito cheia. Três pessoas marcavam presença, sendo dois homens e uma mulher. Começou por ver a loja mais de perto e Largou algumas palavras com os presentes. De quando a quando ia lá visitar. Falava um pouco. Alargava agora conhecimentos e já conhecia muita gente do ramo. Tinha agora uma alcunha algo peculiar, devido a ser muito parecida com aquela mesma mulher que tinha visto na loja desde o primeiro dia em que lá entrou, a Teresa.
Havia também o dono, e namorado da mesma, que era uma personagem simpática, de quem nunca me lembro ter visto alguma vez estar a passar um mau bocado ou ser indelicado para alguém. Foi a primeira pessoa com quem criou uma familiaridade na loja que até hoje permanece, o Steve. O Steve praticava também aquele desporto que admirava e despertava uma certa curiosidade na menina. Tinha até uma 'família' que ia toda skatar com ele. Conheci-os a pouco e pouco. Relembram-me ás vezes o Hugo e o 'Preto', que agora poucas vezes vejo. Lembro-me muito bem da segunda vez que fui ao Vidigal Skatepark, como se fosse ontem. Para mim aquela foi a primeira vez 'verdadeira', pois a primeira foram escassos momentos e não se aproveitara nada para explorar e conhecer.
Ainda localizado dentro da Associação Desportiva Vidigalense, á entrada estava o João a receber as pessoas. Tem uma certa piada que não se bem explicar, e ajudou-me neste novo espaço e meio que não me era familiar. Muito simpático e fez muito por este estilo de vida, que ganha agora um certo 'mérito'. O Ruben, sempre a fazer rir alguém também me ajudou. Lembro-me quando estava a passar por detrás de uma das rampas (um halfpipe, para ser mais precisa) e me voa um skate mesmo á frente da cara e me manda o gelado ao chão. Paralisei. Aparece o Cainço a pedir imensas desculpas e avisa para eu ter mais cuidado quando ando por ali.
Agora?Agora cresci. Mudei fisicamente, mas continuo a mesma criança que corria pelas ruelas antigas da zona histórica leiriense. Fiz uma longa pausa no skate, e tento agora recomeçar. As amizades, essas são tantas que se as nomeasse nunca mais acabava o texto, que não é precisamente curto. Continuo a passar muitas vezes pela loja, que agora sofreu algumas mudanças do que era no seu inicio, e a conviver com todos aqueles que por lá passam.
Entre tantos arrependimentos meus, nunca ter entrado nesta loja pela primeira vez foi um deles. Nem nunca será. Tantas pessoas que conheci, tantas experiências, tantas emoções, tanto que aprendi.... Foram tantas as coisas que fazem com que esta loja tenha mudado a minha vida completamente. Não hesito nunca em dizê-lo, para um bom caminho. E ninguém que diga o contrário mudará as minhas ideias. Não sei o que mais posso deixar aqui, porque é tanto o que tenho guardado...
Agradeço-vos a todos que me receberam. Steve, Teresa, Sales, Joca, Ruben e todos os outros todos que me receberam e que conheci.
Agradeço-vos imenso por esta experiência que pressinto que me reserva mais surpresas. Á família da Tribos Urbanas e a todos que são familiarizados com ela, um grande e sincero obrigada do fundo da minha alma. :')
domingo, julho 06, 2008
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1 comentário:
Estou sem palavras.
É o melhor que já escreveste.
Parabéns!
AMO-TE
Laura
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