domingo, janeiro 29, 2012

Jovialidades

A felicidade não é uma constante. De facto, dissipa-se mais com o passar dos anos, demarcando o seu limiar e o fardo da memória. À parte disso, existem também as fugas francas de quem perde e atura, numa ânsia de não querer sentir nunca mais.

De qualquer das maneiras, todos os dias me ergo e espreguiço uma e outra vez, sem deixar de levitar sobre o cheiro das castanhas das brisas outonais, as vozes escoantes do café como se de fantasmas se tratassem, os sorrisos amigos, os toques dos corpos, tão recentes mas tão arcaicos, os acordes da tal música no ouvido, o pulsar das veias, a boémia, e tantos outros nacos de mim.

 Por vezes sabem a pouco, estas singelas fortunas alegres que me estão tecidas aos dedos, pelas quais me desfaço em ténues nuvens de fumo colorido. Mas tudo isso, num pequeno atrapalho, se vai sem que eu me possa sequer enxergar. E, então, volto a ser um espaço vazio, sem o abraço de sentimentos arrojados que me ampara a confiança. São tantos os instantes que me tornam um ser, sem conta certa nem delicadeza, que se torna tão espontâneo o esquecimento e a minha perca por sentidos puramente ambíguos, ao que me deixo ansiar por outra possibilidade escassa de poder reunir todos estes fragmentos e voltar a ser uma pessoa satisfeita, repetidamente.

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