quarta-feira, agosto 11, 2010

Prisão

A lombriga entorpece-se, levando-me à simplicidade de assombrar os silenciosos passos que me enchem o crânio. Levanto-me. Uma repercussão de flashes ofusca-me na arrogância de suspirar o ar etéreo que me corrói as narinas. A pretensão de me manter inconsciente é, acima de tudo, razão para acordar. Fricciono as costas das mãos contra as pálpebras, chocalho as percepções e fantasias. Deixo-me ondular até às raízes capilares pelas sombras cerúleas que me transportam, extinguindo-se depois nas cordilheiras que consomem a minha secretária. A repetição de onomatopeias enxagua-me a pele dos intrometidos, levedando-me de cinzas. Flicto a perna esquerda até o mindinho sentir o húmido da carpete, ensaboando-me no cheiro pútrido a rua. Esqueço frequentemente de como alvorar, as amarras já se incumbiram na carne, a doença foge com a lascívia, manchando-me os vidros. A mão derrapa pelo espelho, enquanto a outra te prova - já não tenho medo. Continuas quente, senão já morreste, uma outra vez, sem me olhar. As linhas pitorescas irrompem-me as pupilar, as esferas multiplicam-se, deixando a íris gélida. Chega a agnosia e a cegueira, do tanto que esperava mostrou-se mais débil. A putrescência leva o degredo, deixando-me aqui, consciente da plena sanidade que me trouxe. A cólera torna-se elixir de sobrevivência.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Aparição

Altura volátil, aproximadamente 1,8 ou 1,9m, possuidor de um loiro liso desfrisado de camadas mais claras para madeixas mais escuras, despenteado perto da nuca sem descobrir o couro cabeludo, sardas esbatidas pelo bronzeado, órbitas fundas e olheiras demarcadas por uma linha ténue de tom mais claro, olhos cinza esverdeados, arredondados e grandes, boca à medida, nem pequena nem muito grande, queixo um pouco hercúleo arredondado, expressão serena. Pernas altas douradas que se afundam em sapatilhas prateadas, despreocupação.

Veio vender o pó que me cobria as costas e desdenhar as minhas fintas, mostrando-me a burrice de não carregar mais uma fivela de pele ao ombro e empobrecer o meu movimento, já por si precário. Permaneço um desleixo.