Não me gabo das influências que remisturo e dirijo no canto inferior esquerdo da consciência, não fosse ela performer das suas desavenças, toques ou suspiros. Suas que se transmutam como minhas, roubadas às ardósias que me embelezam o crânio. Só de beleza eu, nunca ela que aí vive, confinada às paredes côncavas e brutamente ocas. O encolhimento de todas as cabeças, que um dia já temeu, tece-lhe o espírito de macacos que lhe assombram as manhãs (que, fosse como fosse, não distinguiria sem o clarão das minhas pálpebras astutas). Sem sentir o tempo ou a humidade, rebola-se pelas paredes numa dança embalada em teias de seda cobertas de canela. A fuga à realidade não será caminho, apenas a sua experiência puramente manufacturada a deixa a enferrujar no sábio desalento de que nunca irá sentir. E basta-lhe essa pouca imaginação das suas composições, deixadas ao relento pela repetição. Basta-lhe o facto de um dia as culpas recaírem sobre si e todo o vazio se tornar culpa.
Basta-lhe a percepção e o seu ódio por mim.
segunda-feira, dezembro 06, 2010
domingo, dezembro 05, 2010
Silêncios
Talvez porque, por vezes, me perco na escolha de palavras ainda inexistentes e deixo escorrer o silêncio pelas paredes, mas não é de uma forma incitada que o faço. O silêncio cobre-se de inveja, e tropeça no cómodo prazer de troca de olhares. Não fosse já embaraçoso, os esgares dos lábios não me acompanham as intenções, podendo dizer que sou contrafeita pelo meu exterior. E todo o meu lado esquerdo, imperfeito e irregular, se entristece. Não pela surdez dos agudos, a costela que espreita ou o olho mais miópico, talvez pela forma atabalhoada como se acanham. E deixo-me estar, sem um pio, pela vergonha da figura que tomei ao longo das quadras. Porque esta não é a última vez, nem mesmo as últimas frases.
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