terça-feira, novembro 30, 2010

Sexta

Permaneço mentecapta aos ouvidos de quem já passou, embora não me falte a vontade de o vivenciar. As réstias dos meus interiores deixam-se escorregar pela malha, no retorno ao estado possidónio em que comecei a fermentar, era eu uma nuvem de algodão. Acabo de cuspir o nono estômago pouco antes do retorno ao mesmo sítio em que fiquei estática cinco minutos atrás. Os presságios ficaram queimados com o café, deixando-me a ponderar a invasão alheia, à qual cedo. E é terapêutica a forma como uma extensão de si mesmo se grava no campo de folhas pisadas, onde a algumas centenas de anos alguém cravou o mesmíssimo sinal do queixo na lama batida. Os equilíbrios passam-lhe ao lado, enquanto se desvanece com a saturação. O fim é tão pouco mais ou menos exasperante como o voo dos pombos, deixando-me ficar pelas inconsistências do meu discurso. Mais uma vez a divagar, o fraseado esvoaça pelos telhados enquanto alguém solta a devota gargalhada. Apraz-me o encolher na vergonha, visto ser a única réstia de consistência dos restos que me compelem. Que já não me incomodem é a mentira deplorável a que rezo, pelo que me basta a inacção.

1 comentário:

Dionísio disse...

realmente tenho vindo a admirar a tua escrita desde que a conheci, nunca vi nada tão barroco.

contas histórias nos teus textos? dizes algo? moralizas? apenas exercitas um sentimento surrealista?

por favor, explica-me.