domingo, outubro 31, 2010

Sábado

A mão cega que rastinha o tecto embala a gestação em que fui criada. A tinta já apodreceu e paira, arredodanda e escortaçada, nos cabelos perdidos pela carpete. Os ecos já me trespassaram, mas o gentil desleixo das pálpebras deixa-me ao início da madrugada em falsas esperas. Foram tantas as linhas de sentido que teceram o meu ser, já sem conta nem distinção. 'Não sabes o que é andar sozinha', ouço enquanto os ninhos se entorpecem nos ramos. Aí recordo as fugidas do sono envelhecido ao televisor, para vaguear as escamas do solo que tende a me acompanhar. Se não o tivesse dito, sem seriedade nem piedade da penumbra, não me teriam acompanhado os rastos prateados da vergonha.

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