Não me toca realmente, embora dedilhe os arrepios que me percorrem o pescoço. Nem por uma vez me arranhou, desembaraçando-me da humilhação dos membros, apenas me entorpece. Deixa-me na impassibilidade sem nunca me libertar totalmente, inundado pela luz fria que cobre o soalho. Começa por descrever o futuro regresso, sem nunca voltar atrás nem traçar um remorso. Desdenha o meu sucesso em conter as palavras e desenhar limites, reencontrando os cheiros duma cegueira plena, o facto dele próprio se redimir aos gatafunhos sonoros, aos mergulhos num silêncio nunca completo, o ruído, a loucura que se entranha pelas costas. Não queria ordem, nem mesmo as mãos vacilantes recuperavam consciência, e tudo aquilo que tinha descoberto não era do meu interesse. Deixei-me apodrecer, levitar sobre a inutilidade, tornar-me vítrea. A ver uma chama roubada não recordou a fúria, embora me despreze. Deixei as preocupações no couro encardido do pântano, quando me senti carcomida pela força que me esmagou a traqueia. O romantismo dos escassos movimentos deslumbrou-se no último acto de paixão, o que quer que isso fosse para si, de me esganar, de me arregaçar as mangas em seguida, como se eu não estivesse já farta e apagada, e de me apaixonar novamente por esta fracção de preocupação. Num último relance, já com luzes ofuscantes, roubou-me a seda do peito, despindo-me as luxúrias e os infernos, deixando a singela estupidez me distingue. Os desenhos de luz entretinham os últimos pedaços de tempo morto, enquanto as copas faziam soar um espesso gemido de sofrimento, quase imperceptível, que se traduzia num esgar fulminante e agudo que me acudia, quase como uma última homenagem. Os gritos surdos que me inundavam a morte mantinham-me as pálpebras abertas, revelando, uma vez mais, todas as evidências que me juntavam a este abandono.
'Pensei que fosse melhor.'
sexta-feira, setembro 03, 2010
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