segunda-feira, outubro 11, 2010
Quatro
Apodero-me dos figurinos que me arrastaram, finalmente ganhei, por pouco que seja, controlo. O esgar da escuridão semeia chuva, espero por ouvir os lamentos. Do pouco que se pode dizer meloso que me aconchega só este choro, pequena melodia, que deixa as linhas cegarem-me a pouca audição que a infância esqueceu. Não há tribuna na guerra quente a que te deixas pertencer, nem quem sentenciar. Deixo-me ver que era tua a tragédia que se avizinha enquanto deixavas rastejar os pés na água, a que sobrou da tua morte, e mantinhas o pescoço altivo. A estranha que me foste já se debilitou para um dia perder todo o encanto e as tréguas que te juraram. Já não peço a arrumação, pelo menos arranja o soalho. Já não tenho porta, só rachas nas paredes que me englobam a consciência. Indulgência, que me esfaqueia as memórias debilitadas, dedilha a teia da confusão, e a insónia deixada a pão e água cai na esparrela de falecer. As rachas alargam-se, eles entram pelas paredes a dentro, tomando formas de torsos mutilados reagrupados a monte, embora não me saiba a pesadelo que me preocupe. A linha do amanhecer, exausta, tenta mais uma vez subir aos meus desejos, deixando que as queimaduras me gravem a inocência. Quero a plenitude se me deixar ao recobro do esquecimento. E os espaços, os buracos? Já fugi uma vez, da vergonha e do desconforto que me traziam mais um dia, já esqueci a dor de ossos de cair. O pé esquerdo, mais abrutalhado e atabalhoado nos movimentos, o pobre pé esquerdo, recomeça a fraude ao levar-me à entrada do vazio, onde caio na mais forte esperança, onde raios de mil luzes e cores me cobrem o caminho de branco. Dificilmente permanecerei quieta, mais vale deixar o arrependimento pronunciar-se.
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